Ephéméride éclectique d'une librocubiculariste glossophile et mélomane.
18 Octobre 2022
Mar de mágoas sem marés
Onde não há sinal de qualquer porto.
De lés a lés o céu é cor de cinza
E o mundo desconforto
No quadrante deste mar que vai rasgando
Horizontes sempre iguais à minha frente,
Há um sonho agonizando
Lentamente, tristemente.
Mãos e braços para quê,
E para quê os meus cinco sentidos?
Se a gente não se abraça e não se vê,
Ambos perdidos.
Nau da vida que me leva,
Naufragando em mar de treva,
Com meus sonhos de menina.
Triste sina!
Pelas rochas se quebrou
E se perdeu a onda deste sonho.
Depois ficou uma franja de espuma
A desfazer-se em bruma.
No meu jeito de sorrir ficou vincada
A tristeza de por ti não ser beijada
Meu senhor de todo o sempre,
Sendo tudo, não és nada!
Jerónimo Bragança (1920-2003). Triste sina (1958
Ephéméride éclectique d'une librocubiculariste glossophile et mélomane